sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

notívagos

Eu o conheci naquele bar apinhado de gente, num show que já carregava a palavra especial escancarada em seu título. Era um sábado, eu já perambulava por lá na noite anterior, mas o lugar parecia completamente diferente naquele dia. Sexta-feira havia cadeiras de sobra para quantas pessoas quisessem nos fazer companhia na mesa - e até vieram algumas. Mas no dia seguinte era preciso lutar por um espaço que coubesse meu corpo e uma garrafa de vidro de 600 ml.
Várias dessas garrafas mais tarde, fui avisada de que ele estava lá. A princípio não significou tanto, mas estiquei meu pescoço para observar aquela figura ao vivo. Eu já era naturalmente encantada por suas palavras grifadas em laranja, já era atraída por suas opiniões, era como se nos conhecêssemos há meses. Eu o conhecia. E foi exatamente o que eu disse quando fomos apresentados. Culpa das garrafas de 600 ml que eu havia secado antes e durante o tal show especial. Abri meu coração para falar sobre toda a minha admiração enquanto ele ouvia atento e cultivava um meio sorriso nos lábios.
- Fico feliz de ouvir isso.
Eu fico feliz só por estar nesse metro quadrado, pensei. E eu nem sonhava com o que viria a seguir.
O dia começava a dar seus primeiros sinais de que iria amanhecer. As ruas ainda estavam movimentadas, os bares ainda contavam com seus empedernidos bebuns da madrugada e eu continuava me encantando com aquele jeito engraçado de falar, com aqueles cachinhos em perfeito contraste com o rosto de menino que está mais próximo dos 30 do que se pode imaginar. Tudo o que ele dizia fazia tanto sentido que parecia onírico. Mas eu estava realmente pulando de esquina em esquina na capital mais inspiradora da nação em sua companhia.
Naquele bar com nome de pintor expressionista ele pegou a minha mão e cruzou com a dele. Parecia que estava só testando como nossas mãos ficavam juntas. E depois fez o mesmo com os meus braços enquanto ouvíamos Libertines no sofá daquele apartamento onde latas vazias de cerveja dividiam espaço com quadros dos Beatles & carreiras de cocaína.
Quando o sol já trepidava no horizonte e os pássaros há horas faziam seu trabalho naquele bonito bairro com nome de jardim, nos despedimos, sem que nada além de mãos e braços se cruzassem.
Desde então ele não passou um dia sequer longe dos meus devaneios.

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