segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

rabiscos

Tem uma baqueta com uma assinatura de canetão preto delicadamente colocada meio sobre o volume I de Mate-me Por Favor, meio sobre o Diário de Bridget Jones. É a minha biografia. Uma baqueta que foi de alguém. Mate-me Por Favor. O Diário de Bridget Jones. E nem foi intencional, se quer saber.
Eu lembro o quanto ele me torrou a paciência por causa da baqueta. Tudo porque eu não ficava com ela na mão o tempo inteiro, por quatro horas seguidas. Quer dizer.
- Tu vai esquecer ela aí. Eu vou pegar de volta porque eu posso usar ainda.
Mas é claro que ele não pegou, e nem foi por causa do meu olhar fulminante. Ele precisava deixar um pedaço dele comigo, afinal.
Tem dois adesivos com o nome da sua banda atirados em cima do meu bloquinho de anotações velho, desbotado e amassado. O CD tá logo ali do lado, e a foto eu coloquei no porta-retratos porque tava atrapalhando a minha bagunça pessoal. Só por isso. E tudo tem aquele maldito nome rabiscado com o mesmo canetão preto.
- Mas tu já assinou, não assinou?
- O CD não. Eu assinei a foto.
Ah. A foto.
Na verdade ele realmente parecia uma pessoa amável já no primeiro dia. Ele, o canetão e a indefectível vontade de rabiscar seu nome em tudo. Até na minha vida. O que me conforma é que quando eu voltei pra casa trôpega naquela manhã, com roupas não condizentes com o clima e a situação, maquiagem borrada, olhos assustados dos trabalhadores voltados para mim e a baqueta na mão, o rabisco desbotou um pouquinho.

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