sexta-feira, 27 de abril de 2012

vinte e cinco de abril

Já passava das 14h45 quando o Catarinense para Florianópolis deixou a rodoviária de Balneário Camboriú, com surpreendentes 15 minutos de atraso. Dentro dele, eu, minha irmã, mais um dois ou três rapazinhos com camisetas dos Beatles e os usuais passageiros. 
Mas nem foi ali que começou verdadeiramente a minha saga para conseguir ir ao show do Paul McCartney. Há algumas semanas, na sala da casa do Upiara, eu segurava trêmula meu computador para comprar ingressos do primeiro lote pela internet – sem poder gozar de meus benefícios de estudante, por mero desespero de ficar sem o ingresso. Desespero totalmente contundente, levando em consideração que em 2010, quando Paul esteve em Porto Alegre, eu não consegui comprar, o que me rendeu pelo menos dois meses de uma bela amargura. Era o setor mais longe do palco, é verdade. Mas depois daquele aviso de “compra confirmada”, eu não queria saber de mais nada. Eu veria Paul McCartney. Meu primeiro show internacional seria o do músico mais importante do mundo que ainda vive neste plano. 
O ônibus chegou a Florianópolis por volta das 16h30. O tempo cinza e esquisito nos obrigou a dar uma passadinha numa 1,99 para garantirmos capas de chuva por um preço justo. Corremos para a casa do Upiara para tiramos da bolsa tudo o que poderia ser considerado arma branca e voamos para o Ticen, de onde sairiam ônibus direto para a Ressacada. A fila foi rápida e o trajeto do ônibus até lá também. Com R$ 2,70 fomos deixados a poucos metros do nosso portão. 
Quando chegamos na fila para entrar, dava pra ouvir Paul passando o som lá dentro, uma agradável distração para o atraso de mais ou menos uma hora da abertura dos portões. A entrada de toda aquela gente demorou mais do que se podia imaginar, mas antes das 20h já estávamos todos acomodados em um lugar razoavelmente bom para o nosso setor, onde até fomos contemplados com um pedacinho do telhado das cadeiras cobertas. 
O show estava marcado para as 21h30, e com uma pontualidade britânica, Sir Paul MacCartney apareceu no palco impecável, de paletó azul. 
A sensação de ter um Beatle a metros da gente é inexplicável. Não há no mundo palavras que definam. Era difícil não ir às lágrimas com aquele acontecimento apoteótico em cima do palco. Acho que se alguém não tinha se rendido a elas até o show completar 2 horas, os fogos de Live and Let Die se encarregaram disso com certa precisão. 
A apoteose terminou à 00h20, com muita chuva, muita fila, muitos olhos inchados e a aquela sensação... aquela sensação de ter visto um Beatle.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

impressionismo

Era tudo tão nítido, eu já sentia até o cheiro do lugar a que eu pertenceria depois que o percurso do calendário formado por um x seguido de outro finalmente atingisse o círculo em vermelho. Mesmo tropeçando e levando pancadas, eu levantava e o continuava o meu caminho. Cheia de incertezas,  é verdade, mas com uma vontade que superava qualquer hematoma que aqueles tombos deixavam de lembrança. Eu tinha tempo até fazer eles desaparecem da pele, mas sabe quando você machuca duas, três vezes o mesmo lugar?
Então aquilo que era nítido se tornou uma pintura impressionista, ou pior, uma visão com miopia. Não sinto mais nem o cheiro. Talvez em algum momento seja preciso perceber que os tombos nem sempre são apenas obstáculos que supostamente nos fariam mais fortes.Talvez eles sejam um sinal de que o trajeto está errado. Talvez o caminho não seja bem aquele. Talvez fosse bom virar na próxima esquina.