sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

em 2012 eu quero frios na barriga

Nessa mesma hora, há exatamente um ano, eu terminava de arrumar as minhas coisas, uma malinha azul de lona com roupas suficientes para duas noites fora de casa. O convite para passar a virada de ano na ilha tinha sido feito há uma semana e aceito há uns 4 ou 5 dias, após eu convencer minha mãe da certeza de que o cara que eu conhecia há um mês pela internet não era um psicopata.
O ônibus já estava mais de meia hora atrasado, substituindo minha usual ansiedade por um nervosismo daqueles de que dão vontade de se atirar no chão e arrancar cabelos e unhas. Fui no guichê da empresa e tocaram minha passagem por um ônibus que era para ter passado ali há quase duas horas, mas que estava chegando dentro de poucos minutos. E lá fui eu, já com os batimentos contidos, coração dentro do peito.
A euforia voltou uma hora e meia depois, quando atravessei a ponte Pedro Ivo Campos e vi a Hercílio Luz, linda e iluminada daquele jeito que sempre emociona quem entra na ilha. No táxi da rodoviária até casa do rapaz que iria me hospedar naquela noite, e também na próxima, deu tempo de levar um pito do motorista pelo trajeto curto que eu estava o obrigando a fazer. Mas na porta do prédio, com a malinha azul pendurada no braço direito, o coração ameaçou sair correndo outra vez: finalmente vi ele. 
Eu já tinha avisado que era um pouco tímida, mas queria me esforçar pra pelo menos parecer agradável. Do abraço forte dado ainda na portaria até a chegada do elevador ao 10º andar, já tinha dado tempo pra eu perceber que aquele homem sorridente do meu lado era a coisa mais incrível que tinha acontecido comigo naquele ano que estava em seus momentos finais.
No apartamento minúsculo, ele serviu cervejas bonitas em dois copos. Tinham sido compradas especialmente para a ocasião e talvez tenham sido indispensáveis para as nossas bocas se tocarem pela primeira vez, já no dia 31, de acordo com o relógio. Depois do beijo, o plano de sair para a noite florianopolitana, acertado há dias, foi deixado de lado. Preferimos usar a noite para começar uma paixão que em algumas horas completa um ano.
A continuação da história está espalhada logo ali naquele arquivo, entre janeiro e dezembro de 2011.
É curioso que quanto melhor é o meu ano, menos intenção eu tenho de pedir que o próximo me traga coisas boas. Eu só queria que 2012 fosse tão cheio de frios na barriga, de novidades, de amor, de aprendizado e de sorrisos ao acordar quanto foi 2011. Não deve ser assim tão difícil.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

os melhores discos de 2011

Esse ano eu fiquei com preguiça e resolvi fazer apenas uma dessas listinhas que não levam ninguém a lugar nenhum: os 10 melhores álbuns de 2011. Abaixo você vai encontrar uma compilação do que teve de mais pop nas listas da NME, Rolling Stone, Rock'n'Beats & congêneres. Isso porque neste ano que se encerra eu não tive o menor saco pra hipsterices excessivas.

1 - The Black Keys - El Camino
2 - Foster the People - Torches
3 - Yuck - Yuck
4 - Cold War Kids - Mine is Yours
5 - Noel Gallagher's High Flying Birds
6 - Miles Kane - Colour of the trap
7 - The Vaccines - What Did You Expect From the Vaccines?
8 - Beady Eye - Different Gear, Still Speeding
9 - Noah and the Whale - Last Night on Earth
10 - White Lies - Ritual

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

o amor nos tempos de facebook

Em um passado nem tão remoto assim eu costumava ser uma pessoa ciumenta. Uma namorada ciumenta, mais precisamente. Do tipinho pedante que cria caso por qualquer besteira quando quer sarna para se coçar. Pois bem, o mundo muda, as coisas mudam e as pessoas também. Certa fase da vida me fez mudar drasticamente essa postura e transformou-me em um ser bastante racional. Percebi que aquele jeito agressivo tinha mais a ver com falta de sinceridade do que com ciúme propriamente dito. Desde então a coisa passou a ser mais ou menos assim:

 - Querida, hoje eu vou sair com fulana de tal, aquela amiga, sabe? Aquela que já comi por todos os orifícios prováveis e improváveis, que até já sonhei com uma vida inteira junto. Pois é, vamos ali tomar uma cerveja. Beijo.

Mas nem é esse o ponto em questão. O nariz de cera acima serve apenas para ilustrar o momento em que minha mente saudável se encontra. Pois bem. Nessa condição passei a observar a comportamento das moças cara-de-pau em relação ao homem que no sentido afetivo-amoroso da palavra possui dona. Ah, sim, passei a observá-las no ambiente virtual. Facebookiano, para ser mais exata. Nessa observação cheguei à conclusão de que são vários os tipos de vadias que dão em cima do seu namorado. Descobri com exatidão pelo menos dois deles:

1- O tipo cara-de-pau que sabe perfeitamente que está sendo cara de pau, mas nem liga para isso. Esse tipo é aquele que deixa comentários clichês com variações de "Oun, dois gatinhos!" quando seu namorado publica uma foto dele com seu bigodudo animal de estimação. Esse tipo não liga se está sendo inconveniente, não liga se no perfil do moço está claro que ele está em um relacionamento sério com sicrana, se ele tem uma foto com sicrana no avatar ou até mesmo se ao lado de seu sobrenome há a frase "amo & pertenço à sicrana".

2- O tipo cara-de-pau que não percebe que está sendo exagerada ao curtir a 23ª publicação seguida do moço no Facebook. Ela não percebe que pode soar estranho aquele monte de links postados no perfil de seu homem demonstrando que ele foi lembrado com carinho em todos aqueles momentos. Pode ser que haja nesse tipo de cara-de-pau um pouco de ingenuidade. Pode ser.

Claro que nem mesmo naquele tal passado-nem-tão-remoto eu faria algum tipo de barraco virtual, uma vez que classe é algo que sempre possuí. Mas em momento de atual racionalidade, tão mencionado por aqui, eu visto minha capa de maturidade e faço o quê? Discuto a respeito de como tem mulher cara-de-pau neste mundo. Mas é mesmo o fim da picada...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

eu sozinho

Eu adoro redescobrir a brilhância de certos discos. Hoje acordei, abri meu iTunes e, sem muito critério, coloquei o Bloco pra tocar. Eu ouço Los Hermanos mais ou menos semestralmente, e olhe lá. Pra mim o Bloco é um desses discos que podem ser redescobertos milhares de vezes, tudo vai depender do teu estado de espírito cada vez colocar ele pra tocar. Sempre que eu ouço ele faz sentido, mas sempre um sentindo diferente. Hoje alguns versos inteiros certamente vão ficar ressoando na minha cabeça...

Eu sei, que na verdade eu não consigo entender o nosso amor
Que o teu silêncio fala alto no meu peito
E que nós dois, estamos juntos na distância
Discrepância do destino

domingo, 20 de novembro de 2011

preguiça.jpg





iPhone + hipstamatic + dedinho do Upiara

domingo, 6 de novembro de 2011

eu pensava ter uma bicicleta

O próximo post era pra ter sido um que se chamava "amar demais não pode ser defeito". Desisti porque ele me fez chorar e perder algumas horas de sono. Mas bem que esse podia ter o mesmo nome.
Há pouco mais de um ano escrevi este post falando a respeito do catártico acústico do Apanhador Só na Redenção, e ontem aqui foi tão lindo quanto. Diferentemente lindo, mas lindo. O Santa República tava cheio, todo mundo sabia cantar tudo e ninguém arredou o pé até os quatro deixarem o palco.
Só tenho uma coisa a dizer:

Mentira, tenho mais algumas...




Daí a bateria da câmera acabou.
Cheguei em casa em uma espécie de transe (as Heinekens ajudaram, é verdade) e enchi a caixa de entrada do iPhone do Upi - que dormia em um sofá a 600 quilômetros de mim - de mensagens que tentavam explicar o que tinha sido aquilo.
Amar demais não pode ser defeito mesmo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

as coisas estúpidas da solidão

Uma das coisas mais legais a respeito da solidão é poder escrever sobre ela. Não exatamente sobre a solidão, mas sobre um momento que você viveu sozinha ou pelo menos com gente que jamais vai ler seus escritos.
É quando você pode mentir descaradamente, transformar uma cena corriqueira em uma história bonita. Quando o maluco que esbarra em ti na esquina da loja de 1,99 se torna um homem sexy com a barba por fazer e a loja de 1,99 vira um sebo ou uma lojinha de patchwork.
Outra coisa que eu gosto a respeito da solidão é quando ela é opcional. Quando não é assim então ela não serve pra muita coisa. Faz a gente pensar em coisas estúpidas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

meu primeiro cupcake



São brigacakes e ok, ok, ficaram meio feiosos, não cresceram muito porque coloquei uns pedaços de chocolate grandes demais na massa (hêh) e esqueci de comprar forminhas bonitinhas de papel, mas até que não ficaram tão ruins. E eu provo! Olha a cara dela comendo tão feliz:

:)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

a toalha do baixista boliviano

Eu não sei exatamente o que me fez lembrar disso do nada ontem enquanto eu esperava o ônibus pra Itajaí. Vai ver eu estava compilando as maiores tragédias da minha existência, as que mais me fizeram chorar e querer matar pessoas. Não sei. Mas eu lembrei do dia em que minha mãe lavou a toalha suada do baixista do Cpm 22 que eu tinha.
Ela não entendeu nada daquele escândalo. Por que eu ia querer uma toalha suja e fedida na minha gaveta afinal, né?
Eu estava no auge dos meus 15 anos, tinha ido para a cidade vizinha com uma caravana assistir o show daquela que para mim era a melhor banda do mundo de todos os tempos. Não, não era Beatles, era Cpm 22 mesmo. E aí aquele baixista com cara de boliviano que recém tinha entrado na banda atirou para a plateia a toalha que ele secou a cara suada. E eu peguei. Eu e mais umas três adolescentes histéricas, mas o importante é que eu saí vitoriosa após todas elas acabarem desistindo do cabo de guerra. 
Voltei pra casa realizada com a toalha na mão, mostrando pra todo mundo a minha conquista, e em seguida guardando na gaveta do guarda roupa. Durante um tempo eu sempre ia lá dar uma olhada, uma cheiradinha, uma esfregada na cara. Eis que um dia passando pela lavanderia observei algo familiar na pilha de roupas para passar. 
Eu acho que ninguém nesse mundo pode imaginar o que eu senti. Peguei a toalha e comecei a chorar desesperadamente. Fiquei chorando por horas e horas como se minha vida nunca mais fosse voltar a ter sentido, até minha mãe chegar em casa e não encontrar mais meus olhos dentro da cara inchada e vermelha. Expliquei aos gritos o que ela tinha feito e a senhora lá, com aquela cara de injustiçada, ora essa, a toalha tava suja. Bem melhor ter uma toalha do baixista do Cpm 22 limpinha, não?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

rachando

Não que eu já não estivesse acostumada a me desfazer das coisas. Cidades, apartamentos, roupas, empregos, fotos no porta-retrato, cores de cabelo e também de pessoas.  Contra a minha vontade, por conta própria, por falta de opção ou simplesmente porque a vida seguiu seu rumo e se responsabilizou por deixar que algumas coisas ficassem pra trás, sem que necessariamente se abrisse um buraco na minha existência.
Mas na maior parte das vezes abre e demora pra fechar. E nesses casos você sabe exatamente quando vai acontecer, porque quando as rachaduras começam a ganhar forma, começa também a doer. E não adianta cola nem fita adesiva.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

para a falta de felicidade

Gente que (assim como eu) só se ferra na vida pode (assim como eu) encontrar em um relacionamento amoroso uma nesga de chance de poder sorrir de vez em quando. Mas é importante, veja bem, que a pessoa que você vá se relacionar seja uma pessoa de constante sucesso. Ou no mínimo menos fracassada que você. Se você ama alguém, você se sentirá feliz quando este alguém se sentir feliz. É este o segredo.
A vida pode ser uma tremenda merda e tudo pode dar errado sempre. Você pode ter acordado com barulho de furadeira às sete e meia da manhã tendo ido dormir às três, a chapinha pode ter explodido na sua cara e isso pode ter feito você perder o ônibus e chegar atrasada ao trabalho, onde te pedem com o bafo na nuca por aquilo que você não está conseguindo cumprir devido à incompetência de terceiros, mas se aconteceu uma coisa boa na vida do seu namorado nesse meio tempo e ele agora está sorrindo, você vai sorrir também.
Se a pessoa em questão estiver triste, entretanto, seu dia não vai piorar, porque ele já está uma merda mesmo. No máximo terá um companheiro para reclamar, o que de certa forma pode ser interessante. É este o segredo.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

valeu, woody

Resolvemos dar uma passadinha na Saraiva antes da sessão. Andamos pelos dois andares, lemos muitas contracapas, orelhas e primeiros parágrafos, até que na saída eu disse que não encontrava mais nenhum livro que eu quisesse muito ler.
Pipocas e refrigerantes mais tarde, estávamos sentadinhos esperando Meia Noite em Paris começar. Por alguma espécie de milagre o filme continuou em cartaz por um tempo recorde até que encontrássemos uma oportunidade de vê-lo no cinema. E lá estava. A pipoca, como sempre, acabou antes do primeiro diálogo.
Uma hora e quarenta minutos depois, eu saía esbaforida da sala. Uma confusão mental sobre qual livro do Scott Fitzgerald ou do Hemingway eu leria primeiro me fez interrogar o Upiara até em casa, no táxi escuro que deslizava pelas ruas da ilha debaixo de chuva.
Paris é uma festa foi a primeira escolha, da biblioteca da faculdade mesmo. Depois de assistir Meia Noite em Paris foi meio difícil resistir ao título. Mal havia começado a ler e uns dias mais tarde eu já saía de um sebo porto-alegrense carregando outra pequena pérola, dessa vez Fitzgerald e seu Grande Gatsby.
Essa sou eu, aquela mesma que não encontrava um livro que quisesse muito ler.
Ainda não terminei o Paris é uma festa, mas, em tempo, os diálogos de Hemingway (Tatie) com sua mulher são a coisa mais adorável do planeta.

- Voltaremos então para casa, comeremos aqui mesmo, teremos um jantarzinho delicioso, beberemos Beaune da cooperativa que podemos ver aqui da janela, pelo preço indicado na vitrina. Depois leremos um pouco e, mais tarde, iremos para a cama fazer amorzinho gostoso.
- E nunca mais amaremos a qualquer pessoa tanto quanto amamos um ao outro.
- Não. Nunca. 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

terminal

Outra noite sonhei que te perdia e acordei com vontade chorar. Era mais ou menos como eu imaginava que seria, sabe... quando for... quero dizer. No sonho eu te dizia o que provavelmente eu diria caso tivesse acontecido de verdade. E fui viver da mesma maneira que suponho que eu vá viver quando... enfim.
É como uma doença terminal em que o médico não disse exatamente quanto tempo você tem, mas você sabe que não é muito. E tenta prolongar sua vida o máximo que der, entende? Começa a comer vegetais, fazer exercícios físicos e tomar dois litros de água por dia. E tenta aproveitar intensamente cada minuto do que ainda resta, mas sabe que não pode exagerar. Emoções fortes às vezes podem ser fatais.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

de mim pra mim mesma

Esses dias eu tive mais um surto psicótico. Calculo que tenha sido o 24º desde que me matriculei em Jornalismo, há pouco mais de quatro anos. Eles ocorrem por razões que vão desde um não na cara após subir de joelhos o morro do Cristo Luz em busca de um estágio, até por ter que acordar às seis da madrugada de um sábado frio e chuvoso para ter aula de antropologia. Por ser constantemente enrolada por fontes que não querem perder seu tempo comigo enquanto um prazo brilha piscante toda vez que fecho meus olhos. E a clássica: porque meus textos são ruins. Ou porque as pessoas insinuam que eles são. Ou  porque parece que insinuam que são. Sei lá. Enfim, isso tudo é para dizer que vou escrever uma carta para o meu eu do futuro. Uma carta não, um e-mail. Vou deixar lá no meu gmail com o "mim" no remetente e uma estrela amarela, com a promessa de só abri-lo daqui a no mínimo dois anos. Nele constará todo drama da minha vida universitária.
E aí é que nós vamos ver. Ou vou estar abrindo logo após ter dado uma passadinha no Senai para fazer a inscrição no curso gratuito de manicure, prorrompendo em lágrimas e lamentando não ter trancado a faculdade já nos primeiros sintomas de que algo estava errado, ou... bem, ou não. Mas essas são cenas para um próximo capítulo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

ansiosa

Fazia tempo que eu não participava dessas entrevistas de emprego/estágio em que você precisa sentar em frente à mocinha do RH e começar a contar mentiras sobre sua personalidade, sobre o seu terrível defeito que é o tal perfeccionismo, esse monstro que assola todos os candidatos à vagas de emprego mundo a fora. Eu não lembrava mais o tipo exato de mentiras que a gente tinha que dizer sobre a gente mesmo, então resolvi falar a verdade. Eu disse para a assustada moça do RH que sou louca. O lance é que eu realmente empaquei na hora de dizer minhas duas qualidades e resolvi partir logo para o defeito. Só precisava dizer um, então tive que escolher.
- Sou um pouco preocupada - eu disse
- Como assim?
- Sou preocupada demais com as coisas, fico nervosa, aflita, acho que não vai dar certo, quero arrancar meus cabelos...
Fui falando até perceber a cara de pânico da pobre senhora loura de cabelos cacheados e tentei finalizar em grande estilo:
- Mas isso faz com que eu raramente não consiga resolver os problemas
Claro que não adiantou muito, ao menos era o que dizia a cara desprovida de qualquer expressão da mulher em minha frente.
- Hmmm. Mas se eu escrever isso aqui no formulário vai acabar te prejudicando. Vou colocar ansiosa. - disse ela por fim.

Isso, ansiosa tá ótimo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

fotossíntese

Um cactus. Foi a única coisa que lhe pareceu razoável comprar na charmosa floricultura que fazia parte do cenário de suas manhãs frias. O cactus não era exatamente a planta mais bonita daquelas prateleiras de vidro, mas era a que menos exigiria a sua dedicação. Duraria um bom tempo com apenas algumas gotinhas de água esporádicas, quando lembrasse desse detalhe.
Decidiu colocá-lo próximo à maquina escrever, já que ali sentava pelo menos uma vez por mês desde que havia adquirido uma estranha simpatia por Arturo. É, o Arturo do Fante. Uma vez por mês ela lembraria da existência do novo ser vivo que habitava seu colorido lar e derramaria alguns mls de água sobre o potinho rosa cheio de terra onde o cactus vivia.
Às vezes passava pela sala e por todas as suas prateleiras com livros e um monte de coisas velhas que seu espírito saudosista a impedia de se desfazer e observava aquele estranho conjunto de cactus + máquina de escrever em cima da mesinha de madeira. Ela, que já tinha pesadelos bizarros com a máquina inspirados no Almoço Nu, não podia deixar de achar aquela ideia ainda mais cômica com a presença do cactus a poucos centímetros da criatura.
Talvez por isso tenha mudado de repente a sórdida intenção de adotar uma gatinha branca. Um cactus faria muito mais sentido. Ele não olharia pro horizonte da janela com carinha fofa nenhuma, mas ainda podia fazer a fotossíntese na sala.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

porra, Noel! nem precisava isso tudo

Uma vez mestre, mestre em qualquer circunstância.
Acordei hoje com a janela do MSN do Marcelo nº 2 pulando na minha tela com esse link:

sexta-feira, 22 de julho de 2011

sobre tentar impressionar e parecer idiota

Sempre foi assim. É aquela coisa, estou indo razoavelmente bem, não exatamente um exemplo de sapiência, mas dava pra viver. E aí vem aquela maldita vontade de impressionar. E quando ela aparece, rapaz... tenha certeza de que vai dar merda. Em 100% das vezes que tentei impressionar a única coisa que consegui foi deixar os outros com a impressão de que sou retardada e duzentas vezes mais tansa do que me é de direito. Mas eu não canso. Parece sede de humilhação, um negócio incrível abastecido pela esperança de que um dia, UM DIA, eu vou tentar e conseguir. Vou impressionar. Mas até hoje não rolou.
É como você pretensiosamente buscar referências de Kant para turbinar um artigo e seu professor dizer que aquilo não tinha nada a ver com o que foi proposto e te mandar remover a asneira imediatamente. É como dizer para o seu intelectual e atraente colega novo que você adora a literatura russa, que Dostoiévski é rei, e engasgar quando for questionada sobre sua preferência entre O Idiota e O Jogador, porque o único livro dele que você leu foi Crime e Castigo. É como prestar um concurso público e depois perceber que a palavra ansiosa estava grafada com c na mensagem enviada ao seu novo ficante a respeito de como você havia ido bem na prova . É isso. E é triste.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

faça amor com seu ego

Eu acho que para você se considerar assim tão interessante é preciso bem mais do que passar a vida em uma universidade acumulando "pós" e "ados" para depois empilhar em um currículo e esfregar na cara de alguém. A chance do encontro de hoje à noite bocejar ouvindo sobre suas ambiciosas conquistas acadêmicas é muito maior do que se você sentar confortavelmente na cadeira de plástico e contar as bizarrices que você fazia no primeiro ano da faculdade - que ainda nem chegou ao fim - e que por causa delas quase reprovou por faltas.
Uma discussão sobre um livro do Bukowski, do Hunter Thompson ou até sobre aquele livrinho bocó da escritora junkie brasileira tem muito mais chances de render um bom número de risadas, concordâncias e divertidos insultos do que alguma discussão que envolva aquele seu compêndio sobre a problemática do estruturalismo literário.
Algo que no máximo vai te deixar bastante entendido em uma porção de assuntos (que não interessam a muita gente) e te render um bom salário (provavelmente por trás de um emprego tão entendiante quanto sua vida sempre foi) não garante que você seja uma pessoa muito mais interessante do que aquela que viveu tudo o que pôde enquanto pôde. 
Mas você poderá fazer amor com seu ego sempre que quiser, ele estará super satisfeito com tantas conquistas.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

podem voltar com a escada

Estou pedindo. De novo. Pro além, pra qualquer coisa. Esses dias ouvi alguém dizer que não acredita em ateus, achei engraçado e achei até que fez sentido.
Eu vivo pedindo coisas enquanto olho para o nada, e às vezes sou presenteada com uns trecos bizarros. E agora quero me livrar de um desses presentes que me foi dado em outro momento de desespero, quando eu batia minha testa na parede cheia de recortes do meu quarto e implorava para alguém me jogar uma escada pra me tirar do fundo do poço.
Nem Bukowski me consola mais, ele tinha suas bebidas e seus cavalinhos. Eu só tenho umas pastas cheias de arquivos que moram dentro de um quadrado luminoso e uns livros que eu supostamente estaria lendo. Mas eles passam mais tempo fechados do que em qualquer outra posição.
Qualquer coisa parece um sinal, como se o vendedor da Mega-Sena passasse berrando com seu colete azul bem quando estou sentada no banco da praia pensando que eu deveria ter um New Beatle e um loft de frente para o mar. Ou como se eu precisasse muito de um par novo de botas e a próxima vitrine revelasse uma sequência de modelos com 80% de desconto. E aí os sinais se dissolvem como uma mera coincidência.
Dizem eles que não se pode ter tudo. Mas a graça está em fazer de tudo para ter o máximo que puder.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

seventies

Era final dos anos 70, comecinho dos 80. Eu provavelmente estaria desejando ter um caso com Sid Vicious ou ser a Debbie Harry, mas meus pais optaram por uma juventude... como vamos dizer? mais saudável.




terça-feira, 12 de julho de 2011

música de brinquedo & meu instinto assassino moderado

"Acho que a gente deveria ter trazido uma criança", foi a minha primeira reação quando entramos no saguão do teatro, no domingo à tarde. Não que o show em si, por mais que envolvesse brinquedos fazendo as vezes de instrumentos musicais, fosse necessariamente voltado para crianças. Mas fazia parte de um evento infantil e parecia que só a gente não estava arrastando um pequeno ranhento pelo braço.
A segunda reação foi querer trancar todas as pessoas com menos de um metro e dez de altura em uma sala escura com isolamento acústico, mas daí lembrei que era eu quem estava invadindo o espaço dos pequeninos sem nem mesmo possuir a desculpa da maioria dos adultos presentes, que era de levar o filho, o sobrinho ou qualquer pessoa pequena que fizesse muito barulho.
Nenhuma daquelas pessoinhas com laço rosa no cabelo e tênis de luzinha estava visivelmente interessada em ver o Pato Fu, mesmo que a banda estivesse usando brinquedos, apitos, chaveiros e frangos de borracha como instrumentos. Não fosse os bonecos dançantes fazendo backing vocal, arrisco dizer que lágrimas de tédio brotariam de seus rostos angelicais a qualquer instante. Mas os pais, os tios, os irmãos e primos mais velhos (e nós!) pareciam encantados com aquela cena. 
Minha última reação, agora com os pés doloridos de ser pisoteada por menininhas de vestido bufante e sapatinho de verniz, foi igual a da maioria: impressionante como eles conseguem fazer aquilo com... brinquedos!
Saí de lá fã do iluminador e querendo muito um kazu para tentar explodir pessoas.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

the beat goes on - beady eye

Still life remains, somewhere in my heart the beat goes on.
Chega a doer de tão boa:

domingo, 3 de julho de 2011

deus tá vendo

Foi o primeiro sábado de nossas vidas juntas que trocamos a noite pelos cobertores. Teve 9 Songs e uma garrafa de vinho canônico. Deus viu tudo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

so so so good


we really are. há seis meses.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

cancelar

Já faz uns dias que escrevo e não envio, porque já escrevi e enviei demais. Lotei caixas de entrada e em boa parte das vezes nem resposta obtive. Escrevi e enviei tantas vezes e tudo o que eu queria com isso era algo que fizesse eu me sentir melhor. Escrevi tantas vezes e todas as palavras eram uma tentativa de traduzir a saudade, a insegurança, uma dor estranha, um amor trancafiado e dolorido que eu precisava controlar porque parecia mais intenso do que deveria ser.
E eu gastei horas escrevendo porque eu precisava manter as coisas sob controle dentro de mim e fora de mim também. Eu enviei tantas vezes porque achava que poderia fazer alguma diferença, que causaria uma aproximação, achava que assim poderia me fazer entender. Enviei porque queria resposta. Qualquer resposta. E um dia implorei por ela.
Já faz uns dias que escrevo e não envio, porque aquele milésimo de segundo que se gasta clicando em enviar não é nada comparado aos longos minutos que levo empilhando cuidadosamente um monte de palavras. Apago porque não importa. Porque finalmente entendi que estar sozinho independe de estar acompanhado.

domingo, 26 de junho de 2011

I beat!

Quatro dias. Quatro filmes. Cinco episódios de seriados. Uma garrafa de vinho. Cinco de cerveja. Duas saídas frustradas. Seis pedaços de pizza. Um novo corte de cabelo. Um quarto limpo. Trinta horas de sono. E uma saudade que não consigo mensurar.

Sobrevivi ao feriadão de Corpus Christi!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

natureza viva

Não chega a ser um dos meus contos favoritos do Caio no Morangos Mofados, mas adoro esse trecho:

"(...) as pessoas falam coisas, e por trás do que falam, há o que sentem, e por trás do que sentem, há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções. Que nem se mostram."

quarta-feira, 15 de junho de 2011

blue valentine: vi, não chorei e faço spoiler



Minha primeira reação quando o filme terminou foi vociferar que nunca mais acreditaria em comentários que lia pela internê a respeito de filmes. A partir de então decidi limitar-me às velhas e nem sempre boas sinopses. O conselho era não assistir Blue Valentine no dia dos namorados e estar preparado para o choque caso estiver em um relacionamento sério. Ah, e estar provido de lenços, muitos lenços.
A primeira regra eu já me prontifiquei a burlar, mas fiquei esperando impaciente a hora de prorromper em lágrimas aninhada nos braços do meu namorado, até que... o cast começou a subir na tela. E aí fiquei me perguntando o que exatamente chocou tanto as pessoas que assistiram. Seria a revelação de que, oh! relacionamentos podem ficar desgastados e cansar depois de algum tempo? Que casais brigam, se desentendem e as coisas ficam diferentes de como eram no começo? E que então, de repente - atenção: as palavras a seguir são fortes -, eles decidem se separar?
Sério mesmo que isso é tão improvável, absurdo, cruel, chocante ou assustador? É só um filme mais parecido com a vida real do que se supunha o nome dado a ele no Brasil.

domingo, 12 de junho de 2011

"Vamos fazer uma pilha!", ele me disse depois de eu falar que tinha guardado o canhoto das passagens de ônibus. Achei engraçado, até perceber a seriedade do que o rapaz estava propondo. Ele deve ter percebido a seriedade do que eu estava prondo também, afinal, por que eu iria guardar dois pedaços de papel que não tinham mais utilidade alguma?
Achei bonitinha a ideia da pilha, embora não tivesse levado assim tão a sério, e embora eu desconversasse qualquer proposta mais ousada que ele jogava no ar como uma brincadeira.
Alguns meses depois e vejam só o que tenho aqui:



Uma pequena pilha - em constante crescimento - das minhas idas e vindas.!

E era pra ser só uma aventura inconsequente de dois semi-desconhecidos saindo de um ano e entrando em outro.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

mr. kane é melhor sozinho

Acho The Rascals uma gracinha e The Last Shadow Puppets mais ainda, mas, olha, vou dizer... o que Miles Kane fez sozinho já pode ser considerado uma pequena obra-prima.



Espero mesmo que ele domine o mundo, como disse que pretendia em entrevista à Folha semana passada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

mulher de mentira

Eu não sou mulher de verdade. Não passo de uma confusa aberração da natureza. Uma mutação genética. Um amontoado disforme de células. Mas meu estômago continua dolorido dos socos que recebo toda vez que ouço ou leio a seguinte declaração:
"Mulher de verdade tem curva, tem carne pra pegar.

Eu preciso que, por favor, a ciência crie o mais rápido possível uma denominação para a minha espécie. O preenchimento de formulários burocráticos já está ficando confuso, afinal não há outra opção entre masculino e feminino para especificar meu sexo. Eu tenho uma vagina, dois ovários e também um par de peitos, que mesmo não atingindo o tamanho de melões maduros, são capazes de produzir alimento a um bebê. Mas isso pouco importa se no andar dos fatos, veja só você, eu não tenho tecido adiposo em abundância. Então eu não sou mulher de verdade.
Se eu nasci magrela, se a minha geração materna inteira é magrela e se só vou deixar de ser assim quando adotar métodos artificiais para atingir uma certa grandiosidade corporal, isto não interessa.
Mulher que é mulher tem o "ão" na terminação ortográfica de cada parte do seu corpo. O resto que se vê por aí ninguém sabe o que é. Nós estamos espalhadas pelo mundo em uma quantidade razoável, por isso sugiro a fuga iminente ao perceber a aproximação dessa anomalia, principalmente à noite.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

sobre aquilo que nunca vem

Estava tendo uma conversa estranha com seu subconsciente enquanto comia meio sem vontade um hamburguer vegetariano. Na conversa, comentava sobre como a sua vida parecia uma eterna espera por algo que nunca acontecia. Sobre como dormia e acordava todos os dias pensando que em algum momento aquilo tudo iria finalmente mudar, que ficaria melhor dentro de instantes. Que teria uma paixão e que alimentaria ela todos os dias, que despertaria todas as manhãs - ou tardes, que seja - por causa dela. E sobre como há pouco mais de um ano caminhava por aquelas ruas que tanto detestava ouvindo uma música nos fones de ouvido, e a letra dela dizia que o amanhã devolveria os bons tempos.
E os amanhãs chegaram e se transformaram em ontens num piscar de olhos, sem que nada tenha efetivamente melhorado por mais de algumas semanas. Não que tenha feito muita coisa pra alguma coisa acontecer, mas sabe também que não há muito o que se possa fazer.

sábado, 28 de maio de 2011

hold me closer, tiny dancer

Uma das minhas cenas favoritas do meu filme favorito:

domingo, 22 de maio de 2011

"Você não viu nada. Vou te deixar tão mal acostumada a ponto de você não cogitar mais viver sem mim."

23/02/2011 - 23:40:50 - Porto Velho-RO

Ele bem disse que nessa vida acertou muito mais do que errou.

terça-feira, 17 de maio de 2011

quote

Meio bloquinho de post its mais tarde, encontrei nas últimas páginas do Gauleses Irredutíveis uma definição deveras apropriada para o termo Rock Gaúcho. Perfeita pra quem acha que ele não existe, e perfeita pra quem diz que ele é um gênero musical ou qualquer outro absurdo. Porque na verdade é muito simples. Com a palavra, Carlos Eduardo Miranda:

Isso é até uma coisa que as pessoas se equivocam, na verdade, O rock gaúcho é um rock feito no sul. Como é nome disso: rock gaúcho. O rock feito em São Paulo, como é que chama: rock paulista. O rock feito no brasil: rock brasileiro. É débil o cara achar que não existe o rock gaúcho. Agora, o Movimento do Rock Gaúcho... aí já é uma questão... burro quem diz que não existe. Estrategicamente e mercadologicamente, eu vou dizer que mais de uma vez eu já lutei por isso e apliquei esse nome. Se não falar que é um movimento do rock gaúcho, é uma banda que vai sobressair e outros vão tomar no cu.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ben, Nick e as pessoas

Foi ouvindo Claire's Ninth ou Your Dogs - não estou lembrada - do disco do Ben Folds com o Nick Hornby que eu lembrei por acaso de como diabos cheguei até ele. O Nick é claro que eu já conhecia e idolatrava. Ele é o dono do Rob Fleming, caralho. Mas o Ben Folds eu só tinha ouvido falar aqui e ali, Ben Folds Five, essa coisarada toda, oclinhos de aro grosso.
E aí entram as pessoas. Na verdade nem entram, só dão uma passadinha, uma espiadinha pra dentro e depois vão embora sem aparentemente deixar nada ali de lembrança. Aparentemente, eu digo, porque entre frases como "eu com calor só de olhar pra ti com esse casaco de pelos" e "de onde vieram essas tatuagens?" eu passei quase dois meses vasculhando pra saber, pra conhecer e pra tentar encontrar alguma coisa em comum. Não havia muitas, como previ, mas aí eu me apaixonei. Não pela pessoa, que fique claro. Primeiro pelo Modest Mouse, e mais tarde - bem mais tarde - pelo Ben Folds sentadinho em frente ao seu piano com seus oclinhos, cantando as letras de Nick Hornby.



O vídeo foi postado pela Spin há mais ou menos uma semana. Uma graça.

terça-feira, 10 de maio de 2011

fazendo as pazes com o Foals

Esse ano me entendi definitivamente com o Phoenix e com o Kasabian, agora chegou a vez do Foals:

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Parece uma ideia interessante, mas com o passar do tempo o "não pensar no futuro" se transforma em uma iminente espera pelo fim.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

mais que um sábado qualquer

"Tu puxa um?", me perguntou quando eu sequer havia notado a troca do cigarro normal por um baseado, que pelo tamanho já tinha sido acendido e apagado outras vezes. Daí entendi a razão do cheio forte de incenso quando entrei no apartamento térreo do prédio simples no Bom Fim. O apartamento tinha a cara dele. Dele e da mulher que procurava pela chave desesperadamente porque precisava sair.
Eu estava na sala, sentada em uma cadeira que fazia conjunto com uma mesa de jantar rústica no segundo ambiente. Caixas plásticas, tipo aquelas de supermercado, só que com a grafia do nome de uma das suas atuais bandas, estavam empilhadas próximas ao sofá de pezinhos.
Eu estava a menos de um metro de um dos meus ídolos de toda a vida, sem exageros. Um dos caras que estampam a capa de dois LPs perdidos no meio da minha singela coleção. Eu estava na sala da sua casa, rodeada por seus instrumentos musicais, um piano, um violão e um negócio estranho que não consegui identificar.
Enquanto dois cães enormes se divertiam entre si, correndo pelo apartamento, batendo nos moveis e fazendo sons assustadores, uma gatinha meio tímida emergiu de um corredor estreito. Diferente dos cachorros, que disputavam minha atenção a todo custo, se esfregando nas minhas pernas, a pequena felina ficou apenas me observando de longe.
Eu estava ali unicamente para que aquele homem fumando maconha na minha frente fosse com a minha cara. Talvez eu devesse ter aceitado o baseado. Eu também não queria tomar muito o seu tempo, queria mostrar que sabia de coisas que na verdade eu nem fazia ideia. Queria que ele me desse o aval pra seguir em frente.
Saí de lá quarenta minutos depois, com o aval nas entrelinhas, uns causos na cabeça e ainda três adesivos da tal banda das caixas empilhadas perto do sofá. E dei de cara com a Redenção.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Parece que todo o resto deu um jeito de se encaixar depois daquela efusiva exclamação feita por mim quando nossas bocas se afastaram. Eu estava olhando pra uma das pessoas mais incríveis que já cruzaram meu caminho, de alguma forma eu sabia disso. E eu sequer tinha ouvido pra valer aquela risada deliciosa ou provado seus dotes culinários. Não tinha acordado com aquele sorriso a centímetros do meu rosto, nem tinha presenciado os surtos de nervosismo ou a seriedade repentina. Ele não tinha nem trocado definitivamente o meu nome pelo mesmo adjetivo carinhoso em todas as sentenças.
Agora a minha vida tem mais de um sentido e grande parte do meu esforço é voltado pra fazer alguém ser tão feliz quanto eu. O coração continua meio louco quando chega o dia de matar a saudade, não importa quanto tempo tenha passado. Hoje eu tenho alguns motivos a mais pra desejar que a semana passe voando e um milhão de novos motivos pra agradecer a mim mesma todos os dias por ter feito outra coisa importante por mim: tê-lo encontrado.

Que hoje Saturno retorne pra te dizer que está tudo certo e que vai ficar ainda melhor.



sexta-feira, 22 de abril de 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

the answer is blowin' in the wind

As rodas do velho automóvel trepidavam no asfalto gelado da estrada que ficava praticamente deserta naquela época do ano. O inverno era rigoroso demais para quem acordava com o barulho do mar, e exigia casacos, cachecóis e botas do casal que ocupava os bancos dianteiros. A discussão entre os dois já durava pelo menos 10 quilômetros daquela interminável viagem, exatos dois minutos antes de a garota de cabelos platinados fedendo a cigarro começar a procurar um CD no porta-luvas. O único CD que faria seu namorado calar a boca e esquecer do comentário recebido horas antes sobre seu generoso decote.
Sem muita paciência para responder aos insultos daquele ser descontrolado ao volante, a discussão transformou-se em um monologo. Ela só precisava encontrar o maldito CD no meio de outros tantos com rabiscos ilegíveis dentro de capas trocadas.
"How many roads must a man walk down before you call him a man?", interrompeu de repente a voz anasalada saída com certa dificuldade das decrepitas caixas de som.

terça-feira, 19 de abril de 2011

(o que poderia ter sido um) diálogo

- Não, romances não são chatos, se você quer realmente saber - pensou alto quando leu aquele rabisco que parecia muito com uma de suas típicas indiretas - mas aquilo que eu dizia era tudo verdade. A única coisa que mudou foi eu finalmente descobrir quem era o causador daquele drama todo. E pelos meus sorrisos constantes você já deve imaginar que não era eu.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

jantar

Depois de uns 10 ou 15 minutos os dois terminaram o que estavam fazendo. O sentimento de satisfação misturava-se com o cansaço. O rapaz então deitou relaxadamente na cama e pediu para que a garota deitasse sobre o seu peito, como sempre fazia. Fecharam os olhos um tanto ofegantes por alguns segundos, quando finalmente ele disse:

- Até parece que a gente acabou de transar

quarta-feira, 30 de março de 2011

a dor & os corações partidos

Há não muito tempo fui apresentada ao The Pains of Being Pure at Heart. Achei a banda simpática à primeira vista. À segunda vista também. Nem sei se chegou a passar disso, porque também não deu tempo: semana passada eles lançaram um disco novo. Um disco bom pra caralho, a propósito, e dessa vez rolou um pouco mais do que simpatia. O único problema é que ainda não lembro o nome inteiro da banda quando quero escrever sobre ela, mas isso é o de menos.
Ontem eles lançaram o clipe da música Heart In Your Heartbreak, a cerejinha do disco.

segunda-feira, 28 de março de 2011

a vila

Estavam os cinco ao redor da mesa de madeira capenga devorando o macarrão feito pela única garota do grupo como se aquele fosse o último dia de suas vidas. Os assuntos do jantar - servido por volta das duas da madrugada - variavam entre qual era a melhor fase do Pink Floyd e quem dos cinco iria preparar os béques com o que sobrou da erva que os havia deixado naquela fome descomunal.
As cervejas já estavam no fim, de modo que quando aquilo terminasse não haveria mais nada para fazer naquela vila de pescadores completamente deserta no pico do inverno. Se ao menos estivesse calor eles poderiam correr nus pela ruazinha de areia que dava direto para o mar sem ondas daquela maldita praia.
Se alguém passasse mal ali, morreria, sem sombra de dúvidas. Não havia qualquer sinal de civilização num raio de 20 quilômetros. As casas de veraneio ficavam fechadas, com as luzes ligadas - e às vezes até um rádio velho - na esperança de espantar os arruaceiros que por lá circulavam usando drogas durante inverno. Não se travada deles, é claro. Ao menos a parte dos arruaceiros invasores de casas. Eles não invadiam casas. Só fumavam maconha pra caralho e comiam macarrão com atum também pra caralho.
Os pratos sujos foram empilhados sem que qualquer um dos cinco pensasse na possibilidade de eles serem lavados em algum momento. Foram para o quintal gelado, deitaram sobre a grama que já estava ficando coberta por flocos de geada e esperaram que os últimos dois cigarros de maconha fossem confeccionados. O conteúdo das garrafas verdes, que sequer precisavam ser conservadas em geladeira, era esvaziado enquanto o trabalho era feito.
Acordou na manhã seguinte com um silêncio perturbador, a garota de cabelos avermelhados. Não tinha a mínima ideia de como havia parado naquela cama, com um cobertor até o pescoço e uns pedaços de grama colados na calça jeans. Foi até a cozinha, os pratos ainda estavam lá do mesmo jeito. Na sala algumas garrafas misturavam-se à decoração rústica da casa, e na garagem, nem sinal do peugeot prata que os havia trazido até ali.
Seus quatro amigos tinham sumido misteriosamente para todo o sempre. Já pensava em algumas formas de pedir socorro, já que não fazia a mais vaga ideia de onde estava seu celular. Escrever Help na grama com os tocos de lenha que o avô de seu amigo estocava nos fundos da casa, ao lado da churrasqueira, ou talvez as lenhas pudessem servir para fazer sinal de fumaça, quem sabe. Desejou a morte lenta e dolorosa de cada um deles e pensou em como diabos eles tiveram coragem de abandoná-la ali no meio daquela não-civilização onde teria que sobreviver dos peixes que pescaria.
Então ouviu o ronco de um carro aparentemente atolado na areia pastosa da ruazinha em frente à casa. Correu desesperada em direção à porta para ver se ao menos estava destrancada e viu um bilhete colado com alguma substância gosmenta que ela não soube identificar.
Fomos comprar café.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A noite parecia dar os primeiros sinais de que a estação quente e enjoativa estava querendo se despedir. Ela poderia estar em casa, como era o de se esperar, sufocada por sua pilha de livros que era obsessivamente devorada no intervalo entre um filme e um episódio novo de um dos oito seriados que acompanhava. Mas naquela noite decidiu encaixotar seus planos pacatos que no futuro a tornariam uma grande profissional e foi para o bar beber. Aquilo bem que poderia fazer parte de sua rotina.
Olhou-se no espelho várias vezes antes de sair, pensou em como aquela noite iria acabar, já que seu celular não parava de receber mensagens cheias de segundas intenções. Lembrou de como estava se sentindo dias antes e teve vontade de rir de si mesma enquanto ia para o destino inicial daquela noite chuvosa. O plano sequer deu certo, e nem faria sentido se tivesse dado.
Acabou sentada na mesa do bar tomando uma dose da bebida mais forte que tinham para oferecer. A bebida a fazia perceber o quanto estava sendo fraca. Há anos havia prometido nunca mais sofrer e estava cumprindo religiosamente o acordo, até que começou a dar uns tropeços. Estava querendo de volta o mesmo amor que estava dando. Queria que fosse recíproca a vontade de estar perto e olhar nos olhos, de abraçar, sentir o cheiro. Queria que aquelas palavras não tivessem sido ditas da boca pra fora tantas vezes. Queria que o amor fosse coisa séria. Queria que os acordos fossem cumpridos em tribunal, cada um com seu advogado, se possível. Ela levaria provas concretas dele dizendo o quanto a queria.
Riu de si mesma novamente, já perdendo a conta de quantas doses daquela havia tomado. Sabia que se viraria sozinha, se quisesse. Talvez uma passagem para 600 quilômetros dali a transformasse em outra pessoa, como já havia transformado certa vez, no dia que a fez esquecer de pessoas, de sentimentos e de até de algumas fisionomias. Sabia de tudo isso, mas estava esperando cansar, e de repente se deu conta de que talvez ele não seja o único que cansa com facilidade.

terça-feira, 22 de março de 2011

b-sides?

Oquei, a esperança é a única que morre, mas vamos lá, conspiracionistas, me convençam do contrário.
No dia em que vazou o disco novo do Strokes - e em todos os dois milhões de dias que o precederam - eu esperava qualquer coisa deles. Qualquer coisa. Arrotos, grunhidos, qualquer manifestação de sua existência neste plano espiritual e, mais, esperava alguma espécie de disposição para gravar algo pra gente ouvir. Daí vieram com o Angles.
O Angles é de longe o pior disco deles, mas nem por um segundo eu consegui odiar aquela compilação sem sentido de músicas que aparentemente foram compostas em diferentes anos/fases da lua/posição dos planetas & estados emocionais. Mas estava lá, eram eles, embora não parecesse na maioria de suas pitorescas faixas.
Agora voltando à conspiração, minha irmã me veio com essa. Um disco de b-sides. Faz sentido, não? A gente esperou cinco anos pra eles levantarem a bunda do sofá e gravarem alguma coisa, então agora tudo bem, podemos esperar mais um pouco pra eles lançarem o lado A. Daí aparecem no David Letterman dizendo "ahá! pegadinha do malandro", enquanto Julian Casablancas abre sua jaqueta de couro fechada até o pomo de adão e tira de dentro dela um disco de vinil dizendo que "agora sim, galera, este é o disco novo do Strokes que vocês esperavam ansiosamente enquanto ouviam os dois excelentes álbuns do Albertinho e o resto dos nossos trabalhos solos ruins durante todos esses anos!". Daí depois a gente acorda e segue a vida, vai ouvir Brick by Brick do Arctic Monkeys e vê que as coisas já andavam mesmo um tanto estranhas no mundo.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cold War Kids - Louder than ever - sim, de novo.

Minha banda favorita do mês tocou no programa do Mr. David Letterman esses dias, escolheram Louder than Ever porque é claro que escolheriam Louder than Ever. Quando tu tem uma banda que tem uma música cujo o último verso é:
"I don’t wanna ignore
You were the past of my feelings
But probably gonna get out of this just
Hear me out anyway The darkness knockin' and now
I’m down in on all my promises
Don’t try to pull me out of this Just lay down by me and wait"
o mínimo que se espera é que tu escolha ela para tocar no David Letterman.

segunda-feira, 14 de março de 2011

agora lembra

Até tinha esquecido o quanto era bom o frio na barriga. Aquela sensação de que nada mais no mundo importa, nem tsunami no Japão ou suicídio na universidade. Aquela fisionomia abobalhada que reflete no espelho quando passa por ele indo em direção ao quarto após recolher a toalha estampada com motivos praianos ainda úmida estendida no box.
Tinha esquecido como era bom querer estar o mais perto possível, desafiando as leis da física. Querer que um beijo se estenda por horas e um abraço por dias. Nem lembrava que um sorriso podia significar tanta coisa, que ele podia fazer o coração bater mais rápido e transformar uma simples respiração em longos e barulhentos suspiros.
Tinha esquecido o quão prazeroso era fazer de tudo para ver a outra pessoa feliz, tentar ser tudo o que ela mais gosta, mover montanhas e atravessar o oceano a nado para fazer brotar um sorriso naquele rosto tão harmônico. Já não sabia mais o que era ter em quem pensar antes de dormir, ter alguém pra dizer coisas bonitas e ter por quem sentir saudade 24 horas por dia. Não lembrava mais daquela sensação esquisita de que a qualquer momento cairia dura no chão, porque morrer de amor parece completamente plausível.
E tinha esquecido principalmente que tudo isso junto dava a qualquer pessoa o aval para ser jocosamente piegas sem limite de caracteres.

quinta-feira, 10 de março de 2011

diálogos

Rafael torce para o Caxias.

Eu:
hahahahha oi
Rafael:
HOJE NÃO.
Eu:
HAHAHA (L)
Rafael:
Tu nunca veio falar comigo, precisava hoje?
Eu:
Eu nem ia falar nada demais, só um oi mesmo.
Rafael:
Mas tu sabe o que aconteceu, né.
Eu:
Que teu time perdeu pro meu? Tou ligada.
Rafael:
Que meu time perdeu pro teu, com o juiz dando todas as faltas do gaymio e dando o tempo que precisasse pro teu time fazer gol, isso tu sabe?
Eu:
Nem começa a chorar, não vou fazer cafuné.
Rafael diz
Não, nem to chorando, hoje eu queria espancar alguém. Sério, serve qualquer coisa. Se tu tivesse aqui, hoje ia ter pauleira.

sábado, 5 de março de 2011

The Thrills - Big Sour

Fico que nem uma retardada vendo esse clipe coisa mais linda. Pra começar bem o (meu) carnaval, regado a filmes, livros, uma maratona de House e um pouquinho de trabalho para engrandecer o homem.

quarta-feira, 2 de março de 2011

diálogos

- É, nunca queira isso pra tua vida.
- Não quero e nunca vou querer. Sou a favor da abolição desses joguinhos. Se eu gosto da pessoa, quero falar que gosto, porra. Quero dizer que tô com saudade, que sinto falta, e não ter que ficar fingindo que não tô nem aí pra não pisarem em mim. Não sei como tu consegue.
- Eu sou louca.
- É, eu lembro disso. Não tenho nenhum conselho pra te dar agora, mas juro que tô pensando.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

na frente do espelho

Entrou furiosa apartamento do amigo, se atirou no sofá preto de vinil e acendeu um cigarro. O rapaz não disse nada, nem arriscaria, principalmente pelo estado de visível disposição para matar que ela ostentava naquele momento. Com direito a olheiras profundas e dentes cerrados.

- Falar é fácil, né? - Disse enquanto puxava para mais perto o cinzeiro preto de bola oito adquirido pelo dono do apartamento especialmente para a amiga fumante. - Falar é muito fácil. Qualquer babaca abre a boca e fala. Difícil mesmo é demonstrar, é sentir de verdade.

O amigo, que até então não havia dito uma palavra, interrompeu a organização da sua gigantesca coleção de DVDs e virou-se para ela.

- Você parece uma idiota às vezes.

Já acostumada com a sinceridade do rapaz, apenas franziu a testa e fitou-o com desconfiança.

- Por quê?

- Eu te conheço desde que você nasceu, e desde que você deixou de ser uma adolescente que usa tênis jeans, você sempre conseguiu todos os homens que quis. Todos. Quando você sai pra balada só falta formarem uma fila indiana na porta do banheiro. E agora tá aí, choramingando por um cara que aparentemente só gosta de você quando não encontra nada mais satisfatório na noite.

A garota esmagou o cigarro na parte metálica do cinzeiro, pegou a bolsa, respirou fundo e abriu a porta. Encarou seu amigo por alguns segundos e pensou na quantidade de gente que paga horrores por um psicólogo. Fechou a porta sem fazer barulho e saiu em direção ao elevador.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Cold War Kids - Louder than ever

Dessa vez não tem diálogo nenhum. Eu apenas estou em um relacionamento superintenso com o Cold War Kids.
Quando eu estava triste, querendo arrancar os olhos lacrimejantes da minha cara, Cold War Kids foi muito conveniente. Quando eu estava feliz devido a uma boa notícia, Cold War Kids também foi conveniente.
E, por fim, certo dia quando revirei meu iTunes de cima a baixo não sabendo o que ouvir, Cold War Kids estava lá mais uma vez sendo conveniente.


Tipo um Louboutin preto.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

a estratégia de alex

Eu não lembrava há quanto tempo havia devorado um livro com tanto fervor. Provavelmente foi quando li o Auto, ou Misto Quente. Eu estava realmente enjoying de um modo selvagem chegar em casa e encontrar o Alex Antunes dissecado em sua ficção quase nada ficcional, A Estratégia de Lilith. Aliás, Alex não escreveu o livro sozinho, como faz questão de lembrar. Ele escreveu com a ajuda de Sish. Uma moça que vive dentro dele.
Como se sua vida precisasse de ainda mais mirabolância, mudou algumas coisas aqui e ali. Trocou alguns nomes, inseriu alguns personagens peculiares, se excluiu de algumas situações e se introduziu em outras. Tudo devidamente explicado em terceira pessoa entre um episódio bizarro e outro. Por fim, entupiu de referências musicais & cinematográficas. Pra mim quase bastou.
É São Paulo na década de 90. Quando CDs recheavam prateleiras de tipos como Alex e computadores eram menos utilizados para atividades online e mais para... bem, para escrever livros autobiográficos sobre uma vida regada à álcool, chás alucinogénos e sexo com prostitutas dentro de estrelas de amendoim (ou nozes) em apartamentos na Rua Augusta.
Pouco comum para um ser humano normal, mas completamente dentro dos padrões da curiosa espécie animal denominada "jornalista de música", Alex é de uma simplicidade cômica e brilhante em sua Estratégia. Estranho e estranhamente parecido com a vida, já diz a orelha.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

caixa de pandora

Estava distraída com cerca de três atividades aleatórias inúteis e prestes a receber uma ligação de prefixo distante, quando minha irmã apareceu no meu quarto com uma caixa de madeira, devidamente fechada e coberta por um pó amarronzado.
- Pega isso. Tava no meio das minhas coisas.
Dentro daquela merda estava a minha adolescência. A minha adolescência em forma de umas coisas bizarras, tipo um sabonete Lux com o preço (90 centavos) em cima, um shampoo de hotel, umas medalhas de honra ao mérito enferrujadas e um anel.
O sabonete, lembrei depois, ganhei de presente quando comia alguma coisa velha em uma padaria no centro de Rio do Sul, em dezembro de 2006. "É tradição", tinha dito o meu amigo segundos após arremessar o objeto em direção ao meu prato e ver a minha cara de espanto. Nunca mais tive notícias do rapaz, não sei se isso tem a ver, mas o sabonete continua guardado.
O shampoo de hotel é uma lembrança da única vez que fui para São Paulo, em outubro de 2004, com uma excursão bizarra com pessoas bizarras de um curso de manequim-modelo-fotográfico bizarro. Eu tinha 14 anos e perdi todo o meu dia no PlayCenter porque os guris mais velhos convidaram eu e umas amigas para beber um negócio verde e leitoso na noite anterior e eu fiquei de ressaca. Catorze anos.
As medalhas eram das inter-séries do colégio. Eu jogava futebol da quarta até a sétima, quando fiz um gol contra em um campeonato entre escolas e resolvi me aposentar, tipo o Ronaldo. Mas só oito anos depois eu descobri que tinha hipotireoidismo. O que obviamente não vem ao caso agora.
Como se todos esses objetos e suas procedências já não tornassem a minha adolescência suficientemente bizarra, ainda temos o anel. O anel.
Coloquei no dedo e tentei lembrar de onde era aquele anel que ficava folgado demais para mim. Fucei em algumas fotos, agendas, cartas, cartões e bilhetinhos que estavam na caixa e lembrei. Pertencia a um amigo-ficante. Um ficante que era amigo e depois de não ser mais ficante voltou a ser amigo. Algo assim. Pouco menos de dois anos após me presentear com um de seus vários anéis, o rapazinho resolveu que não servia para esse mundo e partiu, aos 17 anos, em novembro de 2006.
Daí o meu celular tocou, era o prefixo distante. Coloquei aquele monte de tralha de volta na caixa e mandei minha irmã devolver pro lugar onde ela tinha encontrado. Só vou voltar a abrir aquilo daqui a 10 anos. Até lá espero ter bebido o suficiente para não lembrar a procedência dos objetos em questão.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ele nem deve saber, mas é todinho feito de detalhes apaixonantes. E deve saber menos ainda que observo-os embevecida e depois fico lembrando enquanto espero pela sua volta em dias que parecem se arrastar.
Poderiam passar batidos por qualquer pessoa, mas não por mim.
Tipo quando ele me conta sobre algo que escreveu e se enrola um pouco pra encontrar as palavras que vão me fazer entender o que quer dizer. Ou o jeitinho que ele ficava sentado na cama, com o queixo apoiado no joelho, enquanto esperava o notebook dar sinal de vida. E o modo tão natural como ele trata as coisas, sempre tão prático, tão simples, sem cerimônia alguma.
E tem também o sono mais silencioso que eu já presenciei. Não fosse por sempre me envolver com seu braço direito quando percebe que estamos muito afastados, eu acharia que estava dormindo sozinha. Ou o sorriso que me presenteia quando abre os olhos e vê que já estou acordada. Os mesmos olhos que em nano segundos voltam a se fechar para outros longos minutos de sono.
E o modo como ele é sempre ele mesmo, em todas as circunstâncias. A mania de confessar coisas quando bebe demais e a de enrolar os pelinhos da perna quando está impaciente ou um pouco nervoso. O rostinho sério quando está concentrado em algo importante e o modo como deixa extremamente bem feito tudo o que faz.
E principalmente a capacidade de me surpreender todos os dias.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

diálogos

- Tá rindo de quê?
- Não sei. Tô me sentindo um adolescente aqui, sentado nesse banco com uma guria.
- Bom, nem faz tanto tempo que deixei de ser uma adolescente, e caras da tua idade ultimamente são mais adolescentes do que os próprios adolescentes.
- É, mas as mulheres amadurecem mais cedo.
- Eu até lembro da última vez que fiz isso. Deve fazer uns 4 anos. E deve ter sido num desses bancos. Nesse, ou naquele ali.

...

- A gente só faz programa de índio, né? Ontem tu tava se sentindo um adolescente. Agora estamos aqui, há horas debaixo desse troço esperando a chuva passar.
- É, eu preferia estar me sentido um adolescente de novo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

before and after

A garota nem tinha percebido, mas desde que havia colocado os pés naquele lugar, o rapaz tímido de cabelos claros não parou de observá-la. Mesmo nunca tendo ido naquele bar antes, o clima era familiar para ela, que conversava animada com os outros músicos da banda, como de costume. O rapaz tímido e arredio, que lançava olhares disfarçados, teve certeza que um de seus companheiros seria o sortudo que ficaria com a bela ao fim da noite.
Ela havia saído de casa sem o menor interesse de se envolver com alguém. Só queria se divertir e esvaziar o máximo de garrafas que seu estômago aguentasse. Ela adorava aquela banda, conhecia o vocalista e aproveitou para interagir com o restante do séquito. Costumava ser sempre bem-vinda naquelas ocasiões, os befores and afters.
O rapaz sequer ousou tentar alguma aproximação. Ela parecia entretida demais conversando com o resto do grupo. Talvez estivesse mesmo interessada em algum deles, embora não demonstrasse isso explicitamente a nenhum. Será que era o Rafael? Teve uma hora que ela foi falar sozinha com ele... Mas agora parecia não estar mais dando muita bola.
Olhando assim, de cima do palco, ela parecia ser a pessoa que mais se divertia naquele lugar. Mesmo que o restante do público não parecesse muito menos insano. Mal esvaziava uma garrafa e uma nova já estava cheinha em suas mãos. Sabia todas as letras, abraçava algum de seus amigos nas músicas de que mais gostava e não parecia interessada em nada além do som que ouvia e da cerveja que bebia.
Após o show, surgiu com mechas dos cabelos curtos coladas no rosto suado e parabenizou-os pela performance incrível e saiu em busca de um lugar para sentar. Talvez estivesse esperando pela próxima banda. Não havia mais ninguém perto dela, seus amigos pareciam distraídos com algo que não lhe causava o menor interesse. Então o rapaz, agora menos tímido, decidiu se aproximar.
Ela mal havia notado a presença do simpático guitarrista durante toda a noite, embora obviamente soubesse de sua existência. Lembrou que ele parecia meio distante enquanto tivera a animada conversa com o restante da banda antes do show. E agora ele tinha chegado ali, do lado dela, como se a tivesse visto só naquele momento. Puxou uma cadeira para perto, sorriram, trocaram algumas palavras e muitos olhares.
Vinte minutos mais tarde não havia quem conseguisse tirar a moça dos braços daquele rapaz - que até então ninguém havia reparado na presença - e levá-la para casa.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

diálogos tuíticos

Eu e Marcelo no Twitter, há algumas semanas:

@spiritabandoned: don't make me a target, don't make me a target, no don't make me a target


@spiritabandoned: esse Ga ga ga ga ga tem que ser o disco mais subestimado da década passada. só tem som delícia S2

@julie_me: posso preferir o Transference ou apanho na cara?

@spiritabandoned: pode, só porque Goodnight Laura é muito amor

Ouvindo o Ga ga ga ga ga com todo amor que tenho em meu coração, comecei a ficar confusa. É verdade, Marcelo, tirando Ghost of you lingers, só tem som delícia. Não sei mais se prefiro o Transference. Spoon é foda demais.

Meu último diálogo musical via Twitter com o Marcelo foi uma discussão pouco amistosa sobre o fim do LCD Soundsystem, que não vou reproduzir aqui pelo uso excessivo de palavras de baixo calão.

E agora o vídeo, claro. Não achei nenhum decente do Spoon tocando Don't make me a target, mas The Underdog também é do Ga ga ga ga ga, e, porra, eles tocando essa obra-prima no David Letterman, com aqueles metais todos, me deixa nua aqui. Ó:


O Britt Daniel é o cara mais improvável que eu já quis casar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

a pagadora de pecados

Assim que minhas férias foram embora, uma nuvem gorda e negra passou a habitar meu céu, perambulando comigo dia e noite, todos os dias. Começou no primeiro dia de trabalho, como se o primeiro dia de trabalho depois de um mês e meio de férias já não fosse desanimador o suficiente. O coordenador do meu curso recebeu dos seus superiores a informação de que eu teria que me formar ao fim deste pujante 2011, seis meses antes dos meus planos concretos, gravados em pedra desde 2008.
Antes de eu tentar rachar minha testa arremessando a cabeça contra aquelas paredes de tijolos à vista, tentei resolver o problema. Mas eu tinha outro tão sério quanto aquele para resolver no mesmo instante. A mensalidade da minha matrícula tinha vencido no dia anterior e minha progenitora não havia pago o nada modesto valor. O lapso veio seguido de uma também nada modesta multa para que eu pudesse pagar a matrícula assim que liberassem a impressão do novo boleto. Eu ainda não consegui pagar, pois a burocracia amarrou minhas mãos nos meus pés e me amordaçou.
Isso tudo aconteceu no mesmo dia em que o responsável pela minha felicidade infantil durante todo o mês de janeiro foi viajar para muitos quilômetros longe de mim, um dia após ter destruído seu notebook e ficarmos parcialmente sem comunicação. O que me deixou aliviada foi que ao fim disto, ao invés de cair uma pesada bigorna sobre a minha cabeça, caíram apenas uns pingos de chuva. Eu estava sem guarda-chuva, obviamente, como não poderia deixar de ser.
Dias depois, meu computador estragou. Poderia ter sido qualquer problema. Poderia ter sido vírus, poderia ter sido a placa de vídeo, poderia ter sido até a placa mãe. Mas não. O problema teve que ser no HD mesmo, porque não bastava eu ficar um fim de semana sem o meu computador, eu deveria mesmo era perder todas as minhas cinco mil músicas, todas as fotos da minha adolescência vergonhosa e feliz, todos os meus textos. Tudo.
Agora aqui estou eu, com um notebook emprestado torrando minhas pernas e com medo de sair na rua e ser atropelada por um urutu do Exército Brasileiro.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

uma banda tipo inglesa

Do dia 16 de dezembro de dois mil e dez ao dia 31 de janeiro último, eu era uma pessoa ociosa que passava madrugadas a fio fuçando o Last.fm atrás de novas bandas. Sou uma empedernida descobridora de bandas inúteis, quase todas muito parecidas entre si, mas amo todas, quero ouvir todas pra sempre. Uma das mais simpáticas que conheci foi a Eight Legs, que é inglesa, obviamente. Seus integrantes ainda nem saíram da puberdade e se vestem como todos os roqueiros ingleses moderninhos - para meu deleite -, mas o som é divertido pra cacete.
Antes de sugerir que você dê play no vídeo abaixo, vale lembrar que não há nada de muito inovador, mas os clipes deles costumam ser bem bacaninhas. Ó:

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

I (heart) iTunes

Esse tal de iTunes é trimassa. Há uns três anos já haviam tentado me convencer a largar aquele troço arcaico que é o winamp e começar a usar o iTunes. Fiquei com preguiça e nem tenho iPod anyway. Dessa vez não tentaram exatamente me convencer, mas fuçando aqui e acolá em notebook alheio, fiquei com vontade de ter.
Agora ele habita meu personal computer há dois dias e eu estou achando lindo. Lindo e bagunçado. Esse troço é inteligentinho demais e separa todos os discos, que lá estão em pencas com seus nomes todos errados, e eu fico aqui horas-dias-semanas-anosluz tentando organizar tudo. Ainda tá uma zona, mas é um negócio legal pra cacete. Tive que excluir um monte de programas pro meu computador não morrer com o peso do bichinho, mas who cares, o troço é legal pra cacete.
Junto com o iTunes, uma montoeira de músicas estranhas também passou a habitar meu computador. Elas vieram no meu pendrive, quando deixei-o passando uma temporada em Florianópolis. Músicas escolhidas a dedo. Pois é.
Estou ouvindo Caetano Veloso. Não agora. Agora estou ouvindo um tributo ao Odair José, muito bom, por sinal. Mas tem Caetano Veloso aqui. Tem Barão Vermelho também, e Ronnie Von, e Tony da Gatorra, e Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta. E mais um monte de coisa que eu pedi porque não tinha. E umas coisas que possivelmente foram colocadas ali somente pra tirar uma com a minha cara. E nem estou falando da Revista Proibida do Odair José, você que encheu meu pendrive e deve estar aí rindo da situação agora. É.
Bem, vou ali porque o iTunes está fazendo uma parada estranha com os discos do Kinks e do Hollies.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

o que é a realidade, afinal

As marcas não haviam ficado só na pele, constatou assim que se viu tão sozinha como há tempos não lembrava ter se sentido. Enxugou as lágrimas inúteis, mas não adiantava mais. Junto com os efeitos da insônia, acordaria com olhos tão inchados capazes de assustar até o mais desatento cobrador do ônibus amarelo. Depois tentou lembrar quando foi a última vez que havia acordado daquele jeito. Até que fazia sentido.
De volta à realidade, composta por tijolos à vista e ar-condicionados barulhentos, o mundo tentava não se mostrar tão cruel. O vazio podia ser enganado com três reuniões de trabalho e meia hora gasta imprimindo currículos de estagiários que nunca serão contratados.
O mundo realmente não estava parecendo tão cruel, afinal. Em questão de minutos ele havia até substituído o sol que castigava por uma chuva tipo aquela que caiu durante o fim de semana, a vários quilômetros dali.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

destination

O dia em que minha felicidade passou a ser medida em quilômetros:

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cartolas de bike

A segunda mais brilhante canção do Quase Certeza Absoluta virou também o segundo clipe do disco. Ó:

the department is on fire

É difícil eu acreditar tanto em coisas que ainda nem começaram, mas em novembro do ano passado, quando o querido André Ache, por alguma razão, confiou a mim alguns esboços de músicas que sua banda estava gravando em casa, eu acreditei desde o primeiro minuto. Acreditei tanto que resolvi usá-la em uma ideia que meu amigo e talentosíssimo designer Téo Brito havia me confidenciado certa vez. Quando o Téo me falou sobre a tal ideia, achei genial desde o começo, porque eu também já tinha pensado em algo parecido.
Ainda é cedo pra falar sobre isso tudo. Muita coisa ainda vem por aí e tá tudo muito no começo, mas ontem, quando o André me mostrou duas músicas já devidamente uplodeadas em uma página do Facebook, senti mais uma vez aquela coisa toda de acreditar muito naquilo ali. Uma das músicas eu já ouvia há mais de dois meses, meio mal gravada e inacabada. Mas ver ela agora ali, totalmente pronta e transformada em uma pequena obra, me encheu de orgulho.

Essa é a Fire Department, meus caros. Banda de Porto Alegre que não se parece com nada daquilo que recheia sua playlist e que ainda vai dar o que falar.