terça-feira, 26 de julho de 2011

fotossíntese

Um cactus. Foi a única coisa que lhe pareceu razoável comprar na charmosa floricultura que fazia parte do cenário de suas manhãs frias. O cactus não era exatamente a planta mais bonita daquelas prateleiras de vidro, mas era a que menos exigiria a sua dedicação. Duraria um bom tempo com apenas algumas gotinhas de água esporádicas, quando lembrasse desse detalhe.
Decidiu colocá-lo próximo à maquina escrever, já que ali sentava pelo menos uma vez por mês desde que havia adquirido uma estranha simpatia por Arturo. É, o Arturo do Fante. Uma vez por mês ela lembraria da existência do novo ser vivo que habitava seu colorido lar e derramaria alguns mls de água sobre o potinho rosa cheio de terra onde o cactus vivia.
Às vezes passava pela sala e por todas as suas prateleiras com livros e um monte de coisas velhas que seu espírito saudosista a impedia de se desfazer e observava aquele estranho conjunto de cactus + máquina de escrever em cima da mesinha de madeira. Ela, que já tinha pesadelos bizarros com a máquina inspirados no Almoço Nu, não podia deixar de achar aquela ideia ainda mais cômica com a presença do cactus a poucos centímetros da criatura.
Talvez por isso tenha mudado de repente a sórdida intenção de adotar uma gatinha branca. Um cactus faria muito mais sentido. Ele não olharia pro horizonte da janela com carinha fofa nenhuma, mas ainda podia fazer a fotossíntese na sala.

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