quinta-feira, 5 de maio de 2011

mais que um sábado qualquer

"Tu puxa um?", me perguntou quando eu sequer havia notado a troca do cigarro normal por um baseado, que pelo tamanho já tinha sido acendido e apagado outras vezes. Daí entendi a razão do cheio forte de incenso quando entrei no apartamento térreo do prédio simples no Bom Fim. O apartamento tinha a cara dele. Dele e da mulher que procurava pela chave desesperadamente porque precisava sair.
Eu estava na sala, sentada em uma cadeira que fazia conjunto com uma mesa de jantar rústica no segundo ambiente. Caixas plásticas, tipo aquelas de supermercado, só que com a grafia do nome de uma das suas atuais bandas, estavam empilhadas próximas ao sofá de pezinhos.
Eu estava a menos de um metro de um dos meus ídolos de toda a vida, sem exageros. Um dos caras que estampam a capa de dois LPs perdidos no meio da minha singela coleção. Eu estava na sala da sua casa, rodeada por seus instrumentos musicais, um piano, um violão e um negócio estranho que não consegui identificar.
Enquanto dois cães enormes se divertiam entre si, correndo pelo apartamento, batendo nos moveis e fazendo sons assustadores, uma gatinha meio tímida emergiu de um corredor estreito. Diferente dos cachorros, que disputavam minha atenção a todo custo, se esfregando nas minhas pernas, a pequena felina ficou apenas me observando de longe.
Eu estava ali unicamente para que aquele homem fumando maconha na minha frente fosse com a minha cara. Talvez eu devesse ter aceitado o baseado. Eu também não queria tomar muito o seu tempo, queria mostrar que sabia de coisas que na verdade eu nem fazia ideia. Queria que ele me desse o aval pra seguir em frente.
Saí de lá quarenta minutos depois, com o aval nas entrelinhas, uns causos na cabeça e ainda três adesivos da tal banda das caixas empilhadas perto do sofá. E dei de cara com a Redenção.

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