quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

caixa de pandora

Estava distraída com cerca de três atividades aleatórias inúteis e prestes a receber uma ligação de prefixo distante, quando minha irmã apareceu no meu quarto com uma caixa de madeira, devidamente fechada e coberta por um pó amarronzado.
- Pega isso. Tava no meio das minhas coisas.
Dentro daquela merda estava a minha adolescência. A minha adolescência em forma de umas coisas bizarras, tipo um sabonete Lux com o preço (90 centavos) em cima, um shampoo de hotel, umas medalhas de honra ao mérito enferrujadas e um anel.
O sabonete, lembrei depois, ganhei de presente quando comia alguma coisa velha em uma padaria no centro de Rio do Sul, em dezembro de 2006. "É tradição", tinha dito o meu amigo segundos após arremessar o objeto em direção ao meu prato e ver a minha cara de espanto. Nunca mais tive notícias do rapaz, não sei se isso tem a ver, mas o sabonete continua guardado.
O shampoo de hotel é uma lembrança da única vez que fui para São Paulo, em outubro de 2004, com uma excursão bizarra com pessoas bizarras de um curso de manequim-modelo-fotográfico bizarro. Eu tinha 14 anos e perdi todo o meu dia no PlayCenter porque os guris mais velhos convidaram eu e umas amigas para beber um negócio verde e leitoso na noite anterior e eu fiquei de ressaca. Catorze anos.
As medalhas eram das inter-séries do colégio. Eu jogava futebol da quarta até a sétima, quando fiz um gol contra em um campeonato entre escolas e resolvi me aposentar, tipo o Ronaldo. Mas só oito anos depois eu descobri que tinha hipotireoidismo. O que obviamente não vem ao caso agora.
Como se todos esses objetos e suas procedências já não tornassem a minha adolescência suficientemente bizarra, ainda temos o anel. O anel.
Coloquei no dedo e tentei lembrar de onde era aquele anel que ficava folgado demais para mim. Fucei em algumas fotos, agendas, cartas, cartões e bilhetinhos que estavam na caixa e lembrei. Pertencia a um amigo-ficante. Um ficante que era amigo e depois de não ser mais ficante voltou a ser amigo. Algo assim. Pouco menos de dois anos após me presentear com um de seus vários anéis, o rapazinho resolveu que não servia para esse mundo e partiu, aos 17 anos, em novembro de 2006.
Daí o meu celular tocou, era o prefixo distante. Coloquei aquele monte de tralha de volta na caixa e mandei minha irmã devolver pro lugar onde ela tinha encontrado. Só vou voltar a abrir aquilo daqui a 10 anos. Até lá espero ter bebido o suficiente para não lembrar a procedência dos objetos em questão.

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