quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ela nunca sabe quando

Foi de um fragmento literário do seu muso inspirador que ela tirou a chance de enganar a vida tediosa que levava. Ela poderia viajar sem precisar lavar seu cabelo oleoso, sem precisar trocar o pijama sujo de molho de tomate e sem precisar se livrar de um dos seus maiores pesos. Tudo porque não tinha coragem o suficiente para isso. Vontade, tinha.
Nem encher a cabeça de ácido esporadicamente para atingir outras dimensões era o suficiente para se livrar daquela inércia. Precisaria de um ácido por dia, talvez. Então ela partiu para as páginas amareladas vindas de sebos e bibliotecas alheias enquanto pensava no tanto de vida que estava perdendo. Estava perdendo vida debaixo daquele edredom, engordando com uma pizza tão gordurosa quanto sua testa por baixo da franja e fazendo parte de uma história que já durava mais tempo do que ela poderia suportar.
Ela não pintou um ônibus com os tons mais coloridos do universo e nem levou consigo seus amigos loucos. Mas comprou uma passagem. Talvez não imaginasse que quando havia finalmente lavado os cabelos e trocado de roupa naquele domingo, ela não estava apenas comprando uma passagem para vários quilômetros longe dali. Ela dobrou duas vezes e colocou na carteira um ticket para uma nova história.
- Só a de ida, moça?
- Só a de ida. Eu volto, mas não sei quando.

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