quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

na frente do espelho

Entrou furiosa apartamento do amigo, se atirou no sofá preto de vinil e acendeu um cigarro. O rapaz não disse nada, nem arriscaria, principalmente pelo estado de visível disposição para matar que ela ostentava naquele momento. Com direito a olheiras profundas e dentes cerrados.

- Falar é fácil, né? - Disse enquanto puxava para mais perto o cinzeiro preto de bola oito adquirido pelo dono do apartamento especialmente para a amiga fumante. - Falar é muito fácil. Qualquer babaca abre a boca e fala. Difícil mesmo é demonstrar, é sentir de verdade.

O amigo, que até então não havia dito uma palavra, interrompeu a organização da sua gigantesca coleção de DVDs e virou-se para ela.

- Você parece uma idiota às vezes.

Já acostumada com a sinceridade do rapaz, apenas franziu a testa e fitou-o com desconfiança.

- Por quê?

- Eu te conheço desde que você nasceu, e desde que você deixou de ser uma adolescente que usa tênis jeans, você sempre conseguiu todos os homens que quis. Todos. Quando você sai pra balada só falta formarem uma fila indiana na porta do banheiro. E agora tá aí, choramingando por um cara que aparentemente só gosta de você quando não encontra nada mais satisfatório na noite.

A garota esmagou o cigarro na parte metálica do cinzeiro, pegou a bolsa, respirou fundo e abriu a porta. Encarou seu amigo por alguns segundos e pensou na quantidade de gente que paga horrores por um psicólogo. Fechou a porta sem fazer barulho e saiu em direção ao elevador.

2 comentários:

eMe disse...

"qualquer semelhança desse texto com acontecimentos reais, da sua vida ou de qualquer outro não é mera coincidência"

alguns textos nos fazem pensar o quanto de ligação eles possuem com a realidade, esse se não for realmente de um fato que ocorreu tem muita ligação com o que ocorre na vida da maioria das pessoas

ótima habilidade de escrita =D

Juliete Lunkes disse...

São os meus dois "eus" conversando. Mas cena em si é ficcional =)


obrigada =)