quarta-feira, 5 de março de 2014

carnaval, eu cobri

Quando enfiei na minha cabeça que seria repórter de cultura, e lá se vão quase dez anos, as razões eram tão óbvias que quando finalmente entrei na faculdade de jornalismo achei que teria outros 30 concorrentes querendo fazer exatamente o mesmo que eu. Chegando lá, para minha surpresa, havia mais uns dois ou três com o mesmo objetivo, mas sem metade da minha teimosia. Desistiram no meio do caminho. Eu fui até o final e cá estou.
Eu queria trabalhar com aquilo que eu gostava de fazer nas horas vagas, queria unir o útil ao que era essencial na minha vida. Pra mim sempre foi fascinante a ideia de estar perto e tornar públicas as coisas incríveis que músicos, escritores, cineastas, atores, artistas plásticos & demais agentes da cultura fazem. Pois bem.
No último sábado fui escalada para cobrir o desfile das escolas de samba de Florianópolis. Se tem algo que nunca imaginei fazer na vida era isso - e talvez o velório que cobri mês passado. Seriam quase dez horas seguidas de trabalho até o sol nascer, e apesar de eu nunca ter dado a mínima para o Carnaval e de saber que às 6h de domingo eu estaria só o bagaço, admito ter ficado animada com a ideia.
O jornal montou uma equipe para trabalhar no on-line em tempo real, com duas repórteres escrevendo e o restante passando informações via whatsapp em pontos estratégicos da passarela. Eu fiquei na dispersão e sinceramente não tinha parado para pensar no que poderia encontrar ali. Não consegui ver nada do desfile, fiquei de prontidão no portão esperando todo mundo sair da avenida e acho que o que vi ali era ainda mais interessante do que o desfile em si. Eu presenciei todo o tipo de reação de gente que ama aquilo ali e passou o ano todo trabalhando e ensaiando pra fazer o Carnaval acontecer e garantir uma boa nota para sua escola.
Chegava gente rindo, pulando, gritando, se abraçando, chorando de emoção, de tristeza. Chegava gente frustrada por causa de um carro alegórico quebrado, cheia de certezas sobre a vitória ou com poucas esperanças a respeito dela. Chegavam passistas com o pé machucado, sem sentir dor alguma porque no corpo só tinha lugar para a adrenalina,  e outras que saíam levadas de ambulância. Mas em todas aquelas pessoas era possível identificar um mesmo sentimento, o de dever cumprido. Exatamente o mesmo que experimentei quando entrevistei o último mestre-sala da última escola de samba e subi pela última vez até a sala de imprensa com o sol dando o ar da graça.

Nenhum comentário: