sexta-feira, 28 de março de 2014

não dei

Eu tentei. Não era pra mim.
Em 2005 o baixo Tagima do meu novo melhor amigo passou uma temporada lá em casa, com amplificador e tudo. Não sei ao certo por que ele teve a ideia absurda de deixá-lo comigo, acho que foi na época de sua transição para a guitarra, então rolava um certo desapego. Outro amigo já tinha me ensinado a fazer os primeiros acordes de "Come as You Are", então durante aquelas duas semanas em que o instrumento ficou lá em casa, toquei repetidas vezes apenas aquilo. Foi tudo o que consegui aprender, mas não desisti.
No Natal do mesmo ano, sabendo que meus pais obviamente não me dariam um baixo, pedi um violão. E ganhei. Um Michael preto com cordas de aço, nunca havia me sentido tão feliz com um presente. Talvez três anos antes, quando ganhei um hamster. Enfim. Então 2006 seria um ano de grande aprendizado, pensei. Aprenderia a tocar violão e então migraria para o baixo, entraria em uma banda e viraria uma rock star.
Comecei em casa com um material velho do curso de guitarra do meu namorado e tive uma evolução pífia. Então parti para as aulas gratuitas que tinham começado no meu colégio. Lá aprendi a tocar coisas como "Esperando na Janela" e "Sorte Grande", de maneira triste e sofrível. Meus dedos simplesmente não obedeciam aos meus comandos e a única coisa que aquelas aulas estavam me proporcionando eram marcas doloridas que não compensavam tocar aquelas coisas horrorosas. Sugeri outras músicas ao professor, levei o CD do CPM 22, ele não entendeu nada. Depois levei o da Avril Lavigne, ele até que gostou, mas não chegou a me ensinar - e nem a devolver o CD. Ao fim de dois meses desisti daquela macaquice, mas não do violão.
Eu já tinha uma noção de como fazer os acordes, então por que não aprender sozinha as músicas que eu gostava? Entrei no cifraclub, imprimi uma penca de letras com cifras e, como já haveria de desconfiar, não consegui tocar nenhuma. Cansado de assistir meu sofrimento, o namorado roqueiro cool entrou em cena, pegou meu violão e disse:
- Vou te ensinar um jeito mais fácil.
Aí eu desisti de vez. Música não era pra mim. Tocar música não era pra mim. Eu ainda podia escrever sobre ela, afinal.
Há pouco mais de um mês, fazendo uma matéria sobre mulheres instrumentistas, minha colega fotógrafa descobriu meu sonho frustrado e desde então sugere constantemente que eu retome e tente outro instrumento. Tenho cara de baterista, ela disse esses dias.

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