domingo, 6 de abril de 2014

lobotomia

Eu ia começar isso aqui dizendo que sempre odiei Guns N' Roses (sim, de novo. I'm a little obsessed here), mas decidi ser honesta referente a essa questão ao menos uma vez na vida. Eu nem sempre odiei. Quando tinha 13 anos e ainda tentava  descobrir do que gostava, eu deitava na cama e ouvia no meu microsystem com adesivos do Piu-Piu uma coletânea estranhíssima que trazia "Don't Cry" entre uns Nirvanas e uns AC\DCs. Eu escutava a música e fazia exatamente o contrário do que Axl pedia, porque a vida era mesmo difícil para uma adolescente que não podia pôr um piercing no queixo.
Mas daí eu cresci e comecei a ter discernimento das coisas e, aí assim, passei a odiar a banda. Só de ouvir o primeiro solo de "Sweet Child O'Mine" meus olhos sangravam.
Apesar disso, admito que fiquei empolgada quando soube que a cobertura do show deles em Florianópolis ficaria comigo. Jamais faria cara feia para uma experiência antropológica desse nível. Para fazer um trabalho minimamente decente, comecei a ler e a me inteirar um pouco sobre o Guns. Em um debate que mediei entre seis jornalistas que entendem do assunto acabei descobrindo uma série de coisas que no momento não dei a mínima importância, mas que hoje fazem todo o sentido.
Lá ouvi pela primeira vez que o Bumblefoot é um dos maiores guitarristas do mundo, por exemplo. 
No dia seguinte ao episódio relatado no post anterior, minha empolgação tinha atingido um nível cômico. Saí de casa no fim da tarde rumo ao show do Guns N' Roses com dois colegas - um deles inclusive era quem tinha falado aquilo sobre o Bumblefoot - para cobrir o acontecimento.
Eu que já não sou a rainha da paciência estava de saco bem cheio quando deu 21h, horário marcado para o início do show, afinal estávamos plantados lá desde às 18h30 por pânico do trânsito. E ainda teríamos que lidar com o habitual atraso de sua divindade Axl Rose.
Mas em uma fração de segundo tudo mudou. Apagaram-se as luzes e só o que se via era DJ Ashba esfrangalhando sua guitarra ao lado da bateria, que ficava a uns dois metros acima da superfície do palco. Foi o começo de umas das sensações mais recompensadoras que senti na vida. Uma sensação que durou quase três horas e que por mim poderia ter durado até mais. Eu nunca tinha visto na vida músicos de tamanha qualidade e energia assim tão de perto, nunca vi ninguém tocando daquela maneira antes. Todos eles, incluindo Axl, mas com destaque absoluto para os guitarristas DJ, Bumblefoot e Richard e o baixista Tommy Stinson, tocavam como se aquele fosse o último show de suas vidas. Como se aquele público fosse o mais importante que já tiveram. Como se de maneira alguma aquelas pessoas tivessem a chance de se decepcionar com que viam e que de maneira alguma elas pudessem sentir falta de alguém como Slash ali no meio.
Enquanto aqueles quarentões corriam de um lado para o outro, escalavam equipamentos e a cenografia do palco como se recém tivessem completado 20 anos, o velho Axl, no alto dos seus 52, não já não emanava tanta energia assim, mas finalmente mostrou que aquele Rock in Rio 2011 não era o melhor que poderia dar. Deixou o palco várias vezes nas mãos de seus competentes músicos para se recompor, mas toda vez que voltava era o mesmo Axl da primeira música, cheio de vontade de provar que ainda pode muito. Devo ter sido lobotomizada, mas nunca aquele solo inicial de "Sweet Child O'Mine" me causou tanta emoção.
As pessoas ainda podem dizer que aquilo não é efetivamente o Guns N' Roses, and I don't give a shit, mas já passou da hora de o mundo reconhecer a competência e o papel daqueles caras que estão com Axl Rose. 

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