domingo, 19 de setembro de 2010

Refresco Elétrico

Era um bar australiano, com direito a cangurus, um quadro dos Beatles familiarizando-se a instrumentos típicos e uma placa indicando para que lado fica a Tasmânia. Veneno lisérgico correndo nas veias, subindo ao cérebro, as portas da percepção já bem escancaradas e o muso da psicodelia lisérgica sacudindo sua androginia no palco.
Eu balançava minha (terceira?) garrafa d'água para cima enquanto tentava juntar as silabas que formavam a letra de Mademosielle Marchand. Foi quando uma pessoa conhecida e levemente alcoolizada esbarrou em mim. É claro que não me importei, decerto nem senti nada, mas a guria olhou pra mim com uma cara tão suplicante e desesperadora enquanto me pedia desculpas, que me fez pensar na expressão facial monstruosa que eu certamente estava fazendo.
Show acaba, o rei recolhe sua Danelectro brilhosa, passa pelos quatro malacabados no segundo andar - que mal notam sua presença no recinto -, solta um mimoso tchaaaau e desce as escadas. Isso mais tarde me fez pensar: seria ele tão experiente no assunto que notou de longe a espécie de coisa que haviam aqueles jovens tomado?
Então fui ao banheiro.
A guria do esbarrão estava estava lá, e com mais súplicas me pediu desculpas pelo esbarrão. Que esbarrão? Ah, o esbarrão. Pensei em como eu poderia explicar o meu estado e assim justificar a minha reação anterior (que eu nem sabia qual tinha sido) para a pobre guria. Quando escolhi as palavras certas para contar o que se passava comigo, eu só pude ouvir um E ELE TEM MAIS, SERÁ? Antes que eu pudesse responder, sua presença já havia se tornado um rastro de fumaça.

Nenhum comentário: