quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

acontece nos bares vazios

Se eu não esperava encontrá-lo ali naquela noite, que dirá o pobre coitado. Não posso culpá-lo pelos olhos arregalados quando cruzaram com os meus no bar semi-vazio. Era engraçado. Por mais que eu tenha passado quase dois meses num misto de amor & ódio, eu lá fundo sabia que o ódio era infundado. Ele me ignorava sem sequer notar que estava me ignorando. Era uma inocência tão assustadora que dava vontade de trazê-lo pra casa e protegê-lo desse mundo cheio de pessoas horríveis como eu, que acham que ele é só mais um babaca espalhando testosterona pelo mundo.
Enquanto um rapaz se esforçava para me convencer a deixar o bar e ir a uma festa só porque estava acompanhado de um ídolo do underground, ele me cutucou não uma, mas duas vezes para que eu parasse de cochichar no ouvido daquele pertinaz indivíduo e olhasse para ele. Minha vez de arregalar os olhos.
E aí ele perguntou. Foi quando vi a inocência transbordando e escorrendo para fora daqueles olhos e daquele sorriso exageradamente lindo. Me senti uma babaca. Eu não merecia tudo aquilo, embora minutos mais tarde ele tenha provado que não concordava com isso.
Na volta pra casa, ouvindo Raconteurs no carro com os vidros totalmente fechados por causa da chuva torrencial, eu havia me transformado em uma gosma no banco do carona. Uma gosma completamente derretida e consciente de que aquilo poderia se repetir caso eu não esperasse demais daquele rapazinho que já havia pego várias ruas erradas até me deixar no meu destino.
Juntei meus restos, bati a porta do carro e deixei que a chuva me molhasse um pouquinho.

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