quarta-feira, 6 de março de 2013

agora é assim que vai ser

Minha mãe tinha ouvido umas coisas estranhas a respeito daquela banda que faria show em Santa Rosa, mas acabou concordando que eu fosse, apesar dos meus 12 anos. Ela estaria no mesmo parque onde o show aconteceria, isso provavelmente a fez pensar que teria algum controle sobre mim. Então eu fui. 
Naquele cantinho, mais ao lado do palco do que na frente dele, estavam todos os meus amigos da época. Amigos meus, amigos de amigos, conhecidos, colegas de aula, mocinhos com quem mais tarde eu viria a ter efêmeros relacionamentos. Tirando a gente e alguns metaleiros cabeludos, ninguém queria ficar naquele espaço, que apesar não promover apertos e aglomerações, tampouco permitia uma visão muito privilegiada da banda.
O atraso desses shows em feiras agrícolas é praticamente regra, mas nesse em especial eu nem senti passar o tempo, estávamos todos distraídos com conversinhas e flertes ocasionais. Até que o locutor, um radialista famoso da cidade, anunciou que a banda já estava lá, prestes a subir no palco. Em poucos minutos apareceram todos eles: Marcão, Pelado, Champignon e, por último, Chorão.
Acho que depois daquele show Santa Rosa nunca mais foi a mesma. Não acontecia nada lá. Nunca. Aquele cara esquisito, vestindo roupas largas e falando palavrões, empunhou o microfone na frente de 20 mil pessoas que nunca tinham visto nada igual. Era como a letra de O Coro Vai Comê. E isso bastou para que no resto do mês houvesse pauta recorrente nas rodinhas de conversa entre mães & pais. Que absurdo foi aquilo, dizem até que ele mijou na plateia!
Eu não precisava ter os discos do Charlie Brown Jr nem tampouco saber o nome de algum integrante que não fosse o Chorão pra que a banda fizesse parte da minha infância e da minha pré-adolescência, porque onde quer que eu fosse, eles estavam lá. Nos programas vespertinos da rádio Guaíra, nos programas dominicais da TV aberta, na minha recém adquirida MTV, nas festas do Clube Concórdia, na piscina do Cisne, no bar do colégio, nos carros com o porta-malas aberto estacionados na avenida Expedicionário Weber.
Não sei quantas foram as vezes em que eu e minhas amigas, então com 13 ou 14 anos, vivendo as primeiras decepções amorosas, fechamos os olhos e cantamos junto com Chorão que iriamos esquecer aquele desgraçado que nos esnobou nem que fosse só por uma noite. 
Por isso o dia de hoje foi triste pra mim. Não tanto por alguma possível falta que Chorão venha a fazer, e pra mim provavelmente não fará nenhuma. Eu até o xingava esporadicamente, pois a melhor banda do mundo quando eu tinha 13 anos, o Cpm 22, como sabem, era alvo frequente de seus comentários maldosos. Mas o dia foi triste por tudo o que ele deixou e por tudo o que aquelas músicas representaram pra mim. Hoje, durante todo o dia, elas me lembraram momentos e pessoas que eu nem sei mais por onde andam, o que fazem e nem por que saíram da minha vida de maneira tão definitiva. 
Não vai mudar nada, eu sei. Mas hoje o dia foi assim.

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